A importância da Fisioterapia nas alterações posturais em crianças

Os desvios posturais tem sido uma preocupação crescente, sendo considerado um problema de saúde pública devido a sua alta incidência.

Nesse sentido, dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que cerca de 80% da população apresenta ou já apresentou algum incômodo na região da coluna vertebral.

Dentre as consequências das alterações morfológicas na coluna vertebral destacam-se a incapacidade temporária ou permanente, influenciando negativamente na vida do indivíduo e, muitas vezes, impedindo-o de exercer suas tarefas do cotidiano.

Nesse contexto, tem-se observado no últimos anos um crescente aumento de aposentadorias por invalidez, tendo como principal fator as doenças da coluna vertebral.

De acordo com a literatura a maioria dos problemas posturais relacionados a coluna vertebral tem sua origem na infância.

Dados epidemiológicos direcionam para uma alta prevalência de alterações posturais na coluna de crianças em idade do ensino fundamental e adolescentes.

Estima-se que no Brasil, 70% de crianças em fase escolar, possuem ou tendem a desenvolver alterações posturais referentes a coluna.

As principais causas de alterações posturais incluem vícios posturais (em casa e na escola), sedentarismo, nutrição inadequada no período de desenvolvimento motor e, também, fatores de predisposição genética.

No intuito de minimizar e evitar os referidos fatores causais, sugere-se a adoção de medidas preventivas tais como avaliação preventiva, diagnóstico correto que acarretará em aplicações de medidas, tais como o uso de coletes, adequação de moveis, reeducação postural (RPG) e nutrição adequada para a fase de desenvolvimento motor.

Diante dos fatos mencionados, o presente trabalho terá como objetivo avaliar as alterações posturais de crianças na faixa etária de quatro à cinco anos que estão matriculadas em uma escola particular do município de Mirassol – SP.

Casuística e Método.

O presente estudo constitui-se de uma pesquisa descritiva exploratória de abordagem qualitativa de avaliação postural de crianças na faixa etária de 4 a 5 anos de idade, que frequentam uma escola infantil privada no município de Mirassol- SP.

Após a apreciação e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) CAAE: 56908716.4.0000.5512, realizou-se explanação acerca dos objetivos, benefícios e riscos do presente estudo aos responsáveis legais dos alunos.

Os riscos envolvendo este trabalho foram apresentado aos pais, sendo sua classificação definida como risco mínimo em virtude de gerar desconforto ao usar trajes de banho aos indivíduos participantes devido a aplicação da avaliação postural.

Solicitou-se aos responsáveis legais dos alunos seu consentimento voluntário mediante a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.

Os responsáveis e os alunos também foram informados que a participação no estudo não acarretará remuneração bem como custos financeiros, e que a negação da avaliação postural não causará ao aluno nenhum tipo de prejuízo.

Esperava-se a participação de 30 crianças, porém para se manter dentro da faixa etária e disponibilidade das crianças o estudo foi realizado com 12 crianças que tiveram sua postura avaliada pelo software de avaliação postural.

As posições utilizadas para a avaliação foram vistas lateral, anterior e posterior da criança, também foram coletadas informações como a distância entre a criança e câmera que é 1,80cm.

As fotos foram tiradas em um local com o plano de fundo em branco para a melhor visualização, a câmera utilizada neste estudo corresponde ao modelo SamsungR ES75.

Resultados.

A amostra da pesquisa foi composta por 12 crianças, 9 (75%) do gênero masculino e 3 (25%) do gênero feminino. A idade dos participantes variou de 4 a 5 anos, com a média de 4,3 anos.

Os resultados referentes às alterações na coluna cervical se encontram na tabela 1, em que 25% dos participantes apresentaram algum tipo de alteração, o mesmo acontece em relação à coluna torácica.

Enquanto 66,6% dos participantes apresentaram algum tipo de alteração na coluna lombar.


Tabela 1 – Avaliação postural da coluna cervical

n %
Anteriorização 2 16,6
Retificação 1 8,3
Hiperlordose 0 0
Sem Alteração 9 75

n = número de participantes

Tabela 2 – Avaliação postural da coluna torácica

n %
Hipercifose 2 16,6
Retificação 1 8,3
Sem Alteração 9 75

n = número de participantes

Tabela 3 – Avaliação postural da coluna lombar

n %
Retificação 5 41,6
Hiperlordose 3 25
Sem Alteração 4 33,3

n = número de participantes


Os resultados referentes às alterações no tronco encontram-se na tabela 4. Nessa avaliação 66,6% dos participantes apresentaram diferença entre altura dos acrômios, e 58,3% alteração das espinhas ilíacas ântero-superiores.

Tabela 4 – Avaliação postural de tronco

n %
 

 

 

 

 

Diferença entre altura entre acrômios

 

Elevação do lado direito

 

5

 

41,6

 

Elevação do lado esquerdo

 

 

3

 

 

25

 

 

Sem alteração

 

 

4

 

 

33,3

 

 

 

 

Diferença de altura das espinhas ilíacas ântero-superioroes

 

Elevação do lado direto

 

 

5

 

 

41,6

 

 

Elevação do lado esquerdo

 

2

 

16,6

 

 

Sem alteração

 

 

5

 

 

41,6

n = número de participantes


Para a elaboração dos resultados referentes às alterações a nível de joelho, foram avaliados em vista anteroposterior (tabela 5) onde 83,3% dos participantes apresentaram alteração de geno valgo. Também realizou-se a avaliação em vista lateral (tabela 6) onde 25% apresentaram algum tipo de alteração.

Tabela 5 – Avaliação postural de joelho (vista anteroposterior)

n %
 

 

 

 

Geno

 

Valgo

 

 

10

 

83,3

 

Varo

 

0

 

 

0

 

 

Sem alteração

 

 

2

 

 

16,6

 

n = número de participantes

Tabela 6 – Avaliação postural de joelho (vista lateral)

n %
 

 

 

 

Geno

 

Recurvatum

 

 

2

 

16,6

 

Flexo

 

1

 

 

8,3

 

 

Sem alteração

 

 

9

 

 

78

 

n = número de participantes


Em relação aos resultados obtidos na avaliação do tornozelo (tabela 7) 66,6% das crianças apresentam alteração de tornozelo em pronação.

Tabela 7 – Avaliação postural de tornozelo

  n %
Pronação 8 66,6
Supinação 0 0
Sem Alteração 4 33,3

n= número de participantes


Discussão.

O presente estudo teve como objetivo avaliar a prevalência de alterações posturais de crianças em idade escolar de quatro a cincos anos.

Constatou-se maior predominância do gênero masculino em relação as alterações, no entanto segundo a literatura pesquisada não há uma maior prevalência entre um dos gêneros.

Constatou-se no ainda que dentre as crianças que apresentaram alguma alteração em relação a coluna cervical, o maior resultado foi a anteriorização 16,6%, em estudos anteriormente realizados também constatou-se um número significativo de 29,1% participantes com essa alteração, este dado reforça para o uso correto da mochila dentro dos parâmetros de peso para cada idade, ou seja, uma criança que tenha o peso de 20 Kg, o peso da sua mochila não deve exceder a 10% do seu peso, ou seja, ela poderá carregar na sua mochila o peso de 2Kg de material escolar.

Em relação à avaliação da coluna torácica, os resultados do presente estudo divergiram de forma importante em relação a um estudo realizado na região sul do Brasil.

No presente estudo foram observados que cerca de 8,3% das crianças apresentaram retificação torácica, enquanto no estudo de 2015 tal alteração alcançou 38,2% da amostra.

Quanto as crianças que não apresentaram nenhuma alteração o estudo revelou que elas correspondem a 75%, o que se pode observar na literatura pesquisada foi que com o aumento da idade da criança este número tende a diminuir, proporcionando assim o aumento de criança com algum tipo de alteração.

Além disso, de acordo com a literatura, sugere-se que, em relação à retificação torácica, é necessário que a criança deva passar por uma avaliação médica após os doze anos de idade, já que antes desta idade tal alteração é considerada normal, após a realização deste procedimento e se confirmando a alteração, as medidas necessárias podem ser adotadas afim de se promover ações preventivas ou já se iniciar o tratamento da dor em São José do Rio Preto para se bloquear a progressão da alteração, proporcionando assim melhorar as condições de vida desta criança.

No presente estudo observou-se que 16,6% das crianças avaliadas apresentaram hipercifose da coluna torácica, já em estudos anteriormente realizados nas cidades de Maringá-PR e Jaguariúna-SP observou-se a prevalência de 49,9% e 9,1%15,10.respectivamente de crianças que apresentaram esta alteração.

Com base na literatura pesquisada podemos concluir que, a postura mais adotada em sala de aula pelas crianças é com o tronco flexionado e utilizam as mãos sobre o queixo durante a execução das atividades na carteira escolar, o que propicia a postura hipercifotica da coluna torácica entre as crianças em idade escolar.

Em relação as crianças que não apresentaram nenhuma alteração na coluna torácica 75%, como já discutido é necessário adotar medidas para que essas crianças não venham desenvolver nenhuma alteração.

A avaliação realizada pela presente pesquisa demonstrou que 25% das crianças apresentaram hiperlordose da coluna lombar, divergindo de outros estudos em que foi observada a prevalência desta alteração nos estados do Piauí 14,2%, Pernambuco 27,3% e Porto Alegre 90%, reforçando assim a necessidade de uniformização no método de avaliação.

De acordo com as prerrogativas da literatura há uma prevalência maior de hiperlordose lombar no sexo feminino, pois os estudos direcionam que o sexo feminino apresenta maiores ângulos de lordose lombar em relação ao sexo masculino, com relação a nossa pesquisa 33,3% das crianças do sexo feminino apresentaram hiperlordose lombar.

As crianças que apresentaram retificação lombar correspondem a 41,6%, comparando com outros estudos observamos também uma alta proporção de crianças com esta alteração.

Observou-se em nosso estudo que 33,3% das crianças avaliadas não apresentaram nenhuma alteração referente a coluna lombar, e nesse contexto, um fator de extrema importância para prevenir as alterações citadas acima é o mobiliário escolar.

Assim no ano de 1970 o Ministério da Educação (MEC) criou e desenvolveu uma linha de mobiliário escolar, que em 2002 o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FUNDESCOLA) aperfeiçoou para atender a nova gama de estudantes que com o passar dos anos vem apresentando características físicas próprias como encontrado no caderno um, neste caderno encontra-se um estudo: pedagógico, estrutural e econômico dissertando sobre a melhor escolha do mobiliário escolar, levando em consideração a distribuição em sala de aula, ergonomia e utilização de alunos e professores em diversas situações do cotidiano escolar.

Porém o mobiliário disponível na rede pública e privada não é ergonomicamente correto, pois as crianças apresentam variações de tamanho, um solução seria que cada criança tivesse sua mobília adequada para seu tamanho, mas essa solução se tornaria trabalhosa para os professores e alunos já que a mesma sala de aula são usadas por outros turnos, então tendo em vista essa prerrogativa uma solução de fato seria que o mobiliário escolar apresentasse um mecanismo para ajuste de altura.

Em relação a diferença entre a altura dos acrômios observou-se uma maior prevalência para a elevação do lado direito (41,6%) seguido de 25% para elevação do lado esquerdo, tal resultado encontrado confirmou-se na literatura com a maior prevalência de elevação para o lado direito sendo de 62,5%.

A literatura sugere que esta alteração de altura é devido ao lado dominante da criança, o que por sua vez promove um hipertrofia mais acentuada no lado mais utilizado, podendo gerar assim a elevação dos ombros, bem como influenciar desvios na coluna ou inclinação pélvica.

A literatura também aponta para o mal uso de mochila como um dos fatores para elevação de ombro, sendo peso excessivo ou o transporte inadequado da mochila, principalmente o unilateral, propiciando assim a criança a desenvolver ajustes posturais e ações compensatórias, resultantes dessa carga assimétrica.

Desta forma, esse excesso de peso ocasiona a depressão de um dos ombros, sendo capaz de ocasionar consequências para a musculatura local e posteriormente alterações posturais.

Em relação a diferença de altura das espinhas ilíacas ântero-superiores observou-se uma maior prevalência de elevação para o lado direito (41,6%), este dado confirmou-se na literatura pesquisada, onde foi encontrada a maior prevalência de elevação para o lado direito de 61,6%.

De acordo com os dados literários a posição neutra da pelve é responsável direta para o bom alinhamento do abdome, tronco e membros inferiores, seguindo estas prerrogativas, as crianças que apresentarem escoliose ou alteração em tornozelos consequentemente irão expressar elevação na espinha ilíaca.

Na análise postural de joelho observou-se a prevalência de 83,3% de joelho valgo, tal resultado confirmou-se na literatura com a prevalência de 83,2%.

A literatura retrata que o recém-nascido inicia o seu ciclo vitalício com a rotação medial de tíbia e rotação lateral de fêmur, o que se caracteriza como joelho valgo.

A literatura também descreve o joelho varo e valgo como deformidades angulares comuns durante a infância, mas que geralmente acabam trazendo preocupações para os pais.

Essas alterações citadas são de caráter benigna e significam variações normais durante o crescimento e desenvolvimento da criança, não havendo necessidade para se iniciar o tratamento da dor em Mirassol, porém vale a pena o acompanhamento dos pais e profissionais da saúde durante o crescimento desta criança.

Em relação a avaliação do joelho em vista lateral obtivemos a prevalência de 16,6% do genu recurvatum e flexo de 8,3%.

Este achado do genu recurvatum em crianças é alarmante, visto que resulta em alterações posturais, em razão do deslocamento do centro de gravidade do corpo, além de aumentar a incidência de lesões localizadas no indivíduo entre outras.

A literatura indica que as alterações posturais causadas pelo genu recurvatum na infância geram uma maior predisposição para fatores degenerativos da coluna na fase adulta do individuo.

Em conformidade, com a literatura, a criança que apresentar o joelho flexo, pode ser em decorrência do encurtamento da cadeia muscular posterior, particularmente dos músculos isquiotibiais.

Nossa pesquisa evidenciou que 66,6% das crianças avaliadas apresentam pronação do tornozelo, enquanto a literatura pesquisada revelou uma prevalência de 85%.

A articulação tarso-transversal é composta pelas articulações talonavicular e calcâneo-cubóide que tem como principal função controlar a pronação e supinação permitido que o pé e tornozelo se adaptem aos vários terrenos, a literatura retrata que as crianças que apresentam pronação do tornozelo tem um aumento da flexibilidade do médio do pé.

Conclusão.

Esta pesquisa evidenciou que as crianças apresentam significativas alterações posturais nas estruturas avaliadas – coluna, tronco, joelho e tornozelo.

A infância é uma fase de rápidas mudanças em relação a peso, altura e estrutura muscular e em conjunto com fatores como peso excessivo de mochila, mobiliário escolar incorreto e atividades de recreação como uso prolongado de computador, videogame e televisão, tendem a aumentar a instalação dessas alterações nas crianças.

Nesse contexto, devemos considerar a escola como o local ideal para se realizar ações que visem melhorar a qualidade de vida do aluno, como atividade física e alongamento da musculatura, propiciando assim o correto desenvolvimento físico e motor da criança.

Contudo, conclui-se que é de fundamental importância que escola e pais estejam atentos para a detecção precoce dessas alterações durante a infância, para que seja adotado uma intervenção fisioterapêutica preventiva afim de se minimizar estas alterações, propiciando assim o não aparecimento de futuros desconfortos na adolescência e vida adulta provenientes da consolidação dessas alterações do período da infância.

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